quinta-feira, julho 06, 2006

“Você não é mais a mesma”

“Você não é mais a mesma”. Dormi com essa frase na minha cabeça. Formada por poucas palavras, de significados fáceis, mas quando se juntam na frase, parecem se transformar num bicho de sete cabeças.

Então fiquei matutando o que mudou tanto em mim. A grande maioria das pessoas menciona essa frase para minha pessoa, quando não bebo o suficiente, quando não me empolgo o suficiente, quando recuso algo irrecusável ou algo totalmente recusável, que em outros tempos eu não recusaria. Quando não danço quando todos estão sentados ou quando todos estão dançando. Mas, preciso encerar essas descrições, pois do contrário, passarei o texto citando as diversas situações e não chegarei onde eu não sou.

De fato, assumo sem cerimônias ou tristeza, que não sou mais a mesma. Foram tantas coisas, tantas pessoas, tantos acontecimentos, tantos atropelos e atropelamentos, que não sou mais a mesma. Não sou mais tão doce, não sou mais tão ingênua, não sou mais tão insegura, que eu até achava belo a insegurança singela. O que era eu, agora parece não ser. Mas nós não somos sempre não sendo?

Não tenho mais medo da solidão, embora não a queira. Não tenho mais receio do futuro, embora tente encontrá-lo. E não tenho, e parece que essa eu pedir de vez, vergonha na cara. Posso até ficar com as faces rosadas, ai já é uma outra história, mas não deixo de fazer o que minha vida sinaliza para mim.

Em outros tempos, eu seria mais Ego, ou até o Superego, hoje eu sou muito mais Id. E olhe que isso não é bom não, muito mesmo para ser divulgado assim, mas já que estamos falando em não ter vergonha, assim seja. O que é engraço é que até isso parece se encaminhar para um período de reformulações. Não pelo fato de deixar de ser Id, mas por racionalizar essa energia. Acredito que o ser humano quando chega muito perto dele mesmo tem diversos sustos e eu tive o meu, e agora não há mais volta. Uma vez conhecido o outro lado, não tem como esquecê-lo e nem se deve, e nem quero.

A mudança original, umbilical, depois de muitos anos fora do útero, foi essa. Foi o encontro com o outro lado. Mesmo sendo um encontro acanhado, disfarçado, quase um feto, transformou e me tornou em “não mais a mesma”. Tudo isso também não deixa de ser o caminho natural do passar dos anos e da vivência. E não irá parar. Terão vários encontros amadurecidos com o outro lado, vários caminhar desmedidos, várias transformações reveladoras. O que não pode e não vai mudar é o acreditar. O acreditar em mim, no humano, na vida.

Enfim, não sou mais a mesma. Meu corpo mudou, meu cabelo mudou, minhas roupas mudaram, o meu rosto mudou. A armadura também muda. Essa carapaça que temos que carregar diariamente. Em algumas pessoas somente ela se modifica, mas ai já é resignação demais.

5 comentários:

Anônimo disse...

Amadurecimento... mudanças à vista!
Passamos a ser cobrados por nossos atos e atitudes... quando os temos ou não. Nem sempre agradamos pelo que fazemos ou falamos pois não existe mais a ingenuidade. Agora tudo tem peso muito maior, nosso discurso tem o poder de influenciar o pensamento dos outros... e isso pode incomodar e gerar contratempos.
Nem sempre nossas palavras serão aceitas e teremos que acatar outras opiniões. Agora as coisas mudaram... somos adultos e precisamos pagar um preço por isso.

Anônimo disse...

É...a mudança existe e deve ser respeitada....te faz bem ou mau isso?
beijoo

betita disse...

Muito bem. E não acho que é pagar um preço por isso. É isso. Não podemos ser eternamente o que dizem, pois as falas também se modificam. Os olhores estruturante de outrora não não mais os mesmo. E acho que isso é necessário. O encontro com a mudança e com o outro lado.

Anônimo disse...

"isso de querer
ser exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além"

betita disse...

...então sigamos. Tirando sem medo as terceiras pernas. Descobrindo o rosto sem vergonha e sentindo o que devemos sentir.