terça-feira, dezembro 26, 2006

ao próximo, aos próximos.

do passado ao presente

Gosto de revisitar antigas moradas
Cutucando as feridas
Gosto de revirar minhas caixas
Procurando as mais antigas
Gosto de chorar ao som da música
Refrescando os dias quentes
Gosto de ouvir quando me procuras
Aquecendo minhas loucuras
Gosto do passado que me fez
Gosto mais ainda do presente que me refaz.
Roberta Valentim

terça-feira, dezembro 19, 2006

Perfil

Estatura mediana. Olhos castanhos. Fios negros abaixo dos ombros e um ligeiro rosado artificial sobre a pele clara. Uma beleza comum, porém fascinante. Possuidora de mãos talentosas e de uma sensibilidade excitante. Encantava a todos com seus expressivos quadros de aquarela.
Há tempos vivendo sozinha e submersa no seu trabalho, aprendeu a sentir seu corpo e a passear pelo interior, fato este a atormentava, pois a remetia ao passado.
Hoje ela já consegue reinventar os acontecimentos de outrora e transformar o seu presente em arte. A aparente fragilidade do físico magro e indefeso esconde a vitalidade e os mistérios que existe por trás dessa jovem artista.
Passou anos vivendo intensamente cada minuto dos seus dias, mas por vezes era tomada pelas instabilidades humanas. Guardava em si uma tristeza profunda, uma busca incessante por uma felicidade irreal. De um ano para cá, começou a revelar seu lado vivo apenas nas telas, deixando para o real uma calmaria exacerbada.
No entanto, essa suposta calma era freqüentemente atropelada por seus pensamentos desejantes e instintivos. A jovem pintora era a personificação da contradição, da antítese. Entre o sim e o não, entre o dito e o não-dito, ela seguia seus dias escorregando e se agarrando no seu eu irrevelável.

(Perfil da personagem Luci de um conto não publicado)
Roberta Valentim

terça-feira, novembro 21, 2006

boa música, algumas lágrimas e muita alegria.

Pranto de Poeta
(Nelson Cavaquinho e Guilherme Brito)
Gravada pelo Mestre Cartola

"Em Mangueira
Quando morre
Um poeta
Todos choram

Vivo tranqüilo em Mangueira porque
Sei que alguém há de chorar quando eu morrer

Mas o pranto em Mangueira
É tão diferente
É um pranto sem lenço
Que alegra a gente

Hei de ter um alguém pra chorar por mim
Através de um pandeiro ou de um tamborim"

quarta-feira, novembro 08, 2006

Uma outra tentativa

Estou querendo te provar
Que as dores que causei
Delas também me alimentei
Estou querendo te levar
Para um lugar de jasmins
Onde possamos nos revelar
E quem sabe, nos perdoar
Nós dois, a mim.
Se hoje tu choras por nada sentir
Eu choro para me redimir
A tentativa do passado voltar
Para tudo mudar
O que parece em vão
Aos olhos dos que não estão
Para mim, meu amor
É acalento nos dias insanos
Se hoje tu choras por nada sentir
Eu choro para me redimir
Buscando o antigo lugar
Que se encontra distante de mim.

Roberta Valentim

quarta-feira, novembro 01, 2006

E se não deu certo, faça um samba.

Samba Triste
(Baden Powell e Billy Blanco)

"Samba triste
A gente faz assim
Eu aqui
Você longe de mim, de mim
Alguém se vai
Saudade vem e fica perto
Saudade resto de amor
De amor que não deu certo
Samba triste
Que antes eu não fiz
Só porque
Eu sempre fui feliz, feliz
Agora eu sei
Que toda a vez que o amor existe
Há sempre um samba triste, meu bem
Samba que vem de você, amor"

sexta-feira, outubro 20, 2006

volte!

Sinto falta da dor que aqui fez sua morada.
Parece que arrumou as malas e pegou a estrada.
Sem aviso prévio deixou meu peito sem remédio.
A dor de tantas queixas
Era o consolo e minha existência
Hoje não tenho mais dor
Nem o belo amor.
E o pior de tudo
A fonte das entrelinhas
Definitivamente, secou.

Roberta Valentim
"gosto de me ver chorar"

terça-feira, outubro 03, 2006

Notre Musique

Há muito tempo não assistia a um filme que me prendesse ao ponto de anotar algumas falas dos personagens. Sinceramente, acho que isso nunca me aconteceu. De fato, gostaria de ter transcrito muito mais.
Os personagens são riquíssimos e essencialmente autênticos, característica de Godard, que diz não distanciar por completo o ator do personagem. Fato evidenciado na sua participação no longa-metragem.
O filme é extraordinário e merece ser visto ora com olhos abertos, ora fechados.
Uma obra-prima, Nossa Música.

“Se nossa época alcançou uma interminável força de destruição é preciso fazer uma revolução que crie uma indeterminável força de criação, que fortaleça as lembranças, que delineie os sonhos, que materialize as imagens”.

“Uma jovem católica alemã em 1943 disse: O sonho do indivíduo é ser dois. O sonho do Estado é ser um só. Ela foi decapitada”. A cena não é mostrada no filme, mas foi imaginada.

“O mundo em que vivemos necessita desesperadamente, para subsistir da existência de pessoas pacíficas e de poetas ...”.

Numa conferência sobre texto e imagem Godard fala mostrando algumas imagens:

“Em 1948 os israelitas entram na água rumo à terra prometida.
Os palestinos entram na água rumo ao afogamento.
Campo e contracampo.
O povo judeu se torna ficção.
O povo palestino, documentário”.

“Os fatos falam sobre si. Infelizmente não por muito tempo, porque o campo do texto já havia coberto o campo da visão”.

Outro exemplo que o cineasta expõe para mostrar os elementos básicos da gramática cinematográfica:

Um sábio alemão diz que o castelo de Elsinore não tem nada de extraordinário (mostrando as imagens), então, um físico dinamarquês responde: Sim, mas basta dizer “o castelo de Hamlet” e ele se torna extraordinário.

Elsino: o real
Hamelt: o imaginário

Campo e contracampo

Imaginário: certeza
Real: incerteza


“A verdade tem duas faces”

quinta-feira, setembro 28, 2006

"Joãos" do bar

“Joãos” do bar

Sai de casa
E diz que volta já
Senta no bar da esquina
E pede logo um gole de pinga.

Fala para todos
Quem ouve, quem não ouve e quem não quer ouvir
Da dor que se instalou
E que dali não quer mais sair.

Anos de desilusão
Assola aquele pobre coração
Amores perdidos em balcões
Cachaça, consolo e causa.

E agora que a vida perdeu a graça
João do bar
Come e dorme pra beber
Bebe, pra dormir e comer.

Lágrima nos olhos já não mais se sabe
Se chora pela amada perdida
Ou se pelo gosto amargo da bebida.

Coitado do João do bar
Dia desses não terá, se quer,
O seu lugar.

Roberta Valentim

quarta-feira, setembro 27, 2006



Veneta
Edu Lobo/Chico Buarque - 2001
Para o musical Cambaio, de Adriana e João Falcão

"Como num conto de fada
Ou como alguém rolando a escada
Vou pra civilização
Cabeleira incendiada
No barranco, na boléia
Uma candeia em cada mão
Eu quero um amor de primavera
Procuro letreiro de néon
Pretendo zoar a noite inteira
Preciso encontrar um homem bom
Que me deixe louca a chorar pitangas no breu
Que me beije a boca na laje do arranha-céu
E se a vida tomar jeito
Vou andar no parapeito
Com vestido de lamê
Ou sentar na esquina da fome
Da guimba, do desdém
Da gangue da Praça da Sé
Eu quero um amor de primavera
Procuro letreiro de néon
Pretendo zoar a noite inteira
Preciso encontrar um homem bom
Que estenda um tapete vermelho e me beije a mão
Que me arranque a roupa no meio da multidão"

sexta-feira, setembro 22, 2006

o crescer

Essa carência que me trava as pernas
Essa dor que corrói meu ser
Minhas limitações cultivadas
Uma planta todo dia regada
Sinaliza o meu padecer
O meu corpo amargurado
Meus sonhos desfigurados
Meu sorriso invertido
Tudo isso construído
Nesse deserto escondido
Que é o bendito crescer.

Roberta Valentim

Se tem que mudar, mude. Se tem que seguir, subverta.

o proibido virou permitido.
o perveso virou héroi.
meu diário virou um blog.
minha vida um velho e repetido rock.

(comentário complementar ao texto, E tudo mudou, de Luís Fernando Veríssimo)

Roberta Valentim

quarta-feira, setembro 20, 2006

é melhor assim

GERÂNIO
(Nando Reis/Marisa Monte/Jennifer Gomes)

“Ela que descobriu o mundo
E sabe vê-lo do ângulo mais bonito
Canta e melhora a vida, descobre sensações diferentes
Sente e vive intensamente

Aprende e continua aprendiz
Ensina muito e reboca os maiores amigos
Faz dança, cozinha, se balança na rede
E adormece em frente à bela vista

Despreocupa-se e pensa no essencial
Dorme e acorda

...

e quer ser mãe, tem lençóis e tem irmãs
Vai ao teatro mas prefere cinema

Sabe espantar o tédio
Cortar cabelo e nadar no mar
Tédio não passa nem por perto, é infinita, sensível, linda
Estou com saudades e penso tanto em você

Despreocupa-se e pensa no essencial
Dorme e acorda”

quinta-feira, setembro 14, 2006

pétalas no jardim

Por que falar de dor
Se a dor não vai
Nem volta mais.
Por que falar de dor
Se a dor não dói
E tanto faz
De tanto procurar o que me traz amor e paz
Eu quase percebi que só você é de valer
Agora que perdi
O que fazer para sorrir
E nessa de querer
Eu vivo só
Sem sucumbir
Até eu encontrar
O que sou eu
Pra resumir
Mas são elas
As pétalas no jardim
Que dizem muito mais de mim.

Roberta Valentim
Quem é do Amor
(Sergio Sampaio)

quem é do amor não engana
ama mesmo as duras penas
por isso não são pequenas
as doces vezes do amor
quem é do amor é mais quente
viaja contra a corrente
tem sangue de aguardente
nas dices velas do amor
quem é do amor tem o nome
de raoni da floresta
ruschi do espírito santo
da medicina da selva
quem é do amor é mais simples
tem uma cara de nuvem
e não permite que sujem
o verde da sua relva
quem é do amor somos nós
consolo dos idiotas
chave de se abrir as portas
dupla que se satisfaz
que amor assim é pros vivos
pros rituais pros sentidos
não é para ser escrito
não é para os livros que se faz

quinta-feira, agosto 31, 2006

...feito tatuagem...

A mão da vida me tatuou por dentro.
A mão do homem por fora.


Roberta Valentim

segunda-feira, agosto 28, 2006

O cheiro da saudade acabará condensando o ar da minha estufa.

Roberta Valentim

sexta-feira, agosto 18, 2006

Cíclica

As lágrimas que até ontem caíam
Pediram a licença da partida.
Mas na hora da despedida,
Sem nenhuma cerimônia,
Colocaram meus ouvidos num canto
E sopraram num só instante:
A vida tem dessas coisas,
Chora e ri.
Oh, cena encantadora.

Roberta Valentim

terça-feira, agosto 15, 2006

Acolhimento

Jan Saudek, 1971.

quarta-feira, agosto 09, 2006

Acedência

Mãos que passeiam em outros corpos.
A pela branca na língua tua
Já não é a minha.
Teus pensamentos mais secretos
Não tem o meu por perto.
Na antiga cama que deitei
Meu cheiro não mais convém.

Roberta Valentim

segunda-feira, agosto 07, 2006

Paulo Leminski

Estupor
(Paulo Leminski)

"esse súbito não ter
esse estúpido querer
que me leva a duvidar
quando eu devia crer
esse sentir-se cair
quando não existe lugar
aonde se possa ir
esse pegar ou largar
essa poesia vulgar
que não me deixa mentir"

terça-feira, agosto 01, 2006

a morte de Dionísio

Meus pés estão cansados.
Sobraram os velhos calos
Das sapatilhas coloridas,
Que seguiam as velhas trilhas
Dos famosos carnavais.
Hoje não há Dionísio,
Apenas um choro contido
De tempos que não voltam mais.

Roberta Valentim

quinta-feira, julho 27, 2006

Ver e Sentir

Imagem do fotógrafo Jan Saudek (The Lovers, 1987)

terça-feira, julho 25, 2006

pobre carnaval

Serpentinas cortadas por cinzas
Confetes jogados num canto
Fantasias em preto e branco

Roberta Valentim

quarta-feira, julho 19, 2006

O sal, O amor, A revelação.

"Lembrei-me de ti, quando beijara teu rosto de homem, devagar, devagar beijara, e quando chegara o momento de beijar teus olhos - lembrei-me de que então eu havia sentido o sal na minha boca, e que o sal de lágrimas nos teus olhos era o meu amor por ti. Mas, o que mais me havia ligado em susto de amor, fora, no fundo do fundo do sal, tua substância insossa e inocente e infantil: ao meu beijo tua vida mais profundamente insípida me era dada, e beijar teu rosto era insosso e ocupado trabalho paciente de amor, era mulher tecendo um homem, assim como me havias tecido, neutro artesanato de vida."

Clarice Lispector
A Paixão Segundo G.H.

...

Para mim A Paixão Segundo G.H. é a belaza e a inquietude profunda do desabrochar do ser.

Roberta Valentim

segunda-feira, julho 17, 2006

A voz que é do samba.

O bonde do Dom
(Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown, Marisa Monte)

Novo dia, sigo pensando em você
Fico tão leve que não levo padecer
Trabalho em samba e não posso reclamar
Vivo cantando só para te tocar
Todo dia, vivo pensando em casar
Juntar as rimas como um pobre popular
Subi na vida com você em meu altar
Sigo tocando só para te cantar
O Bonde do Dom que me leva
Os anjos que me carregam
Os automóveis que me cercam
Os santos que me projetam
Nas asas do bem desse mundo
Carrego um quintal lá no fundo
A água do mar me bebe
A sede de ti prossegue

Música do novo Álbum de Marisa Monte
Universo ao Meu redor.

...

deixando o samba falar ao pé do ouvido.

quinta-feira, julho 13, 2006

Desejo Humano

(Imagem do Filme Desejo Humano 1954 do diretor Fritz Lang)

O desejo que borbulha
Queimando os lençóis
Tem data e hora marcada
Pra nascer e morrer.
O problema é que ele,
Nasce,
Morre,
E não tem sepultamento.
Roberta Valentim

quarta-feira, julho 12, 2006

O outro, lado.



"Eu já havia experimentado na boca os olhos de um homem e, pelo sal na boca, soubera que ele chorava".

A Paixão Segundo G.H.

Clarice lispector

sexta-feira, julho 07, 2006

"A História de Lily Braun"


Como num romance
O homem dos meus sonhos
Me apareceu no dancing
Era mais um
Só que num relance
Os seus olhos me chuparam
Feito um zoom

Ele me comia
Com aqueles olhos
De comer fotografia
Eu disse cheese
E de close em close
Fui perdendo a pose
E até sorri, feliz

E voltou
Me ofereceu um drinque
Me chamou de anjo azul
Minha visão
Foi desde então ficando flou

Como no cinema
Me mandava às vezes
Uma rosa e um poema
Foco de luz
Eu, feito uma gema
Me desmilingüindo toda
Ao som do blues

Abusou do scotch
Disse que meu corpo
Era só dele aquela noite
Eu disse please
Xale no decote
Disparei com as faces
Rubras e febris

E voltou
No derradeiro show
Com dez poemas e um buquê
Eu disse adeus
Já vou com os meus
Numa turnê

Como amar esposa
Disse ele que agora
Só me amava como esposa
Não como star
Me amassou as rosas
Me queimou as fotos
Me beijou no altar

Nunca mais romance
Nunca mais cinema
Nunca mais drinque no dancing
Nunca mais cheese
Nunca uma espelunca
Uma rosa nunca
Nunca mais feliz

Edu Lobo - Chico Buarque/1982
Para o balé O grande circo místico

quinta-feira, julho 06, 2006

“Você não é mais a mesma”

“Você não é mais a mesma”. Dormi com essa frase na minha cabeça. Formada por poucas palavras, de significados fáceis, mas quando se juntam na frase, parecem se transformar num bicho de sete cabeças.

Então fiquei matutando o que mudou tanto em mim. A grande maioria das pessoas menciona essa frase para minha pessoa, quando não bebo o suficiente, quando não me empolgo o suficiente, quando recuso algo irrecusável ou algo totalmente recusável, que em outros tempos eu não recusaria. Quando não danço quando todos estão sentados ou quando todos estão dançando. Mas, preciso encerar essas descrições, pois do contrário, passarei o texto citando as diversas situações e não chegarei onde eu não sou.

De fato, assumo sem cerimônias ou tristeza, que não sou mais a mesma. Foram tantas coisas, tantas pessoas, tantos acontecimentos, tantos atropelos e atropelamentos, que não sou mais a mesma. Não sou mais tão doce, não sou mais tão ingênua, não sou mais tão insegura, que eu até achava belo a insegurança singela. O que era eu, agora parece não ser. Mas nós não somos sempre não sendo?

Não tenho mais medo da solidão, embora não a queira. Não tenho mais receio do futuro, embora tente encontrá-lo. E não tenho, e parece que essa eu pedir de vez, vergonha na cara. Posso até ficar com as faces rosadas, ai já é uma outra história, mas não deixo de fazer o que minha vida sinaliza para mim.

Em outros tempos, eu seria mais Ego, ou até o Superego, hoje eu sou muito mais Id. E olhe que isso não é bom não, muito mesmo para ser divulgado assim, mas já que estamos falando em não ter vergonha, assim seja. O que é engraço é que até isso parece se encaminhar para um período de reformulações. Não pelo fato de deixar de ser Id, mas por racionalizar essa energia. Acredito que o ser humano quando chega muito perto dele mesmo tem diversos sustos e eu tive o meu, e agora não há mais volta. Uma vez conhecido o outro lado, não tem como esquecê-lo e nem se deve, e nem quero.

A mudança original, umbilical, depois de muitos anos fora do útero, foi essa. Foi o encontro com o outro lado. Mesmo sendo um encontro acanhado, disfarçado, quase um feto, transformou e me tornou em “não mais a mesma”. Tudo isso também não deixa de ser o caminho natural do passar dos anos e da vivência. E não irá parar. Terão vários encontros amadurecidos com o outro lado, vários caminhar desmedidos, várias transformações reveladoras. O que não pode e não vai mudar é o acreditar. O acreditar em mim, no humano, na vida.

Enfim, não sou mais a mesma. Meu corpo mudou, meu cabelo mudou, minhas roupas mudaram, o meu rosto mudou. A armadura também muda. Essa carapaça que temos que carregar diariamente. Em algumas pessoas somente ela se modifica, mas ai já é resignação demais.

segunda-feira, julho 03, 2006

Saudade
















Se as lágrimas tivessem o dom de transformar saudade em flores.
Meus trilhos seriam cobertos por margaridas, jasmins, orquídeas, papoulas.
Seriam flores de todos os tipos e cores.

quarta-feira, junho 21, 2006

Derrubando para levantar

Cada tijolo terá o seu destino
Quebrado de cima pra baixo ou de baixo pra cima
O que importa que fiquem apenas os cacos
Pra facilitar a recolhida

O chão tem que ser firme
Com a terra bem batida
Usando cimento e brita
Pra não criar feridas

Com a base toda pronta
É cuidar dia e noite
Pra ninguém entrar sem permissão
E fazer desapropriação

Juntar pás, bacias e martelos
Instrumentos num canto quieto
Esperando o momento certo

E...
Quando o dia então chegar
Morada nova
Será aqui
O meu lar

segunda-feira, junho 12, 2006

namorada

No teu colo derramo meu pranto
Meu canto
Encantos
E desencantos

Na infinita espera
Bebo o doce que derramas
Sentindo o cheiro que emana
Braços de eterna dama

Velhos e novos amantes
Choram desilusões
Procurando nos teus balcões
Verdades estruturantes

Alegrias festejadas
Em noites embriagadas
Cigarro do esquecimento
Nos lençóis
Meu pensamento

Nesse céu que é o meu leito
Tuas cores acalmam o peito
E caminho lado a lado
Com minha vida
Namorada

sexta-feira, junho 02, 2006

pequena

O ônibus não vai mais parar
Não há mais ninguém para visitar
A casa que te vi chegar
Não vai mais te guardar

O outro lado a espera
Vai crescer em outras primaveras
E num piscar de olhos
Será a mais linda bela

Os gritos
A voz roca
O choro de manha
A energia

As mordidas
O sorriso
O cheiro
O tímido beijo

Não há palavras
Minha pequena amada
Que possa refletir
A dor de te ver partir

O conforto chegará com o tempo
E não se preocupe, meu bem
Lá pelo mês de dezembro
Vôo o céu e te beijo.

quarta-feira, maio 31, 2006

“Você quer fuder com o mundo....”

Mas não será abrindo as pernas...

Quero fuder com o que há de podre nele, de ruim, pois o mau cheiro já chegou à sala de estar e aos quartos. A casa começou a ficar inabitável.
Não há mais possibilidade de calar os olhos e fechar a boca.
Começaram subindo pelos fios das antenas da Tv aberta ou a cabo. Quando dei por mim, lá estavam eles, roubando, controlando, manipulando. Parecia que éramos marionetes naquelas mãos grandes, estonteantes e deslumbrantes.
Fiquei com medo, acuada, assustada.
Tentei gritar, mas todos estavam hipnotizados pela música da serpente. Então, colocaram o chip da fantasia nas mentes tranqüilas de outros dias. Fantasia de um mundo mergulhado no espectro, nos olhos do perverso.
Vivemos agora num deserto.
Não há mais escolhas por escolhas, apenas escolhas por...porque isso se deve consumir. Não tenham trabalho de pensar, apenas, peguem o que tiver ao seu alcance?!
E assim como são as coisas são as pessoas.
Mataram o romantismo com balas de prata, sem deixar migalhas de pão, para a pobre Maria-João achar o caminho de volta.
Criaram a floresta das sensações.
O sentimento foi deixado na despensa.
O que satisfaz é belo e cultuado, mas, até o dia em que não mais satisfaz. Daí, é deixado de lado, escondido, esquecido, no fundo do poço.
Os sentimentos de outrem não valem mais que um ou dois contos de réis.
E assim o balé das sensações vai imperando.
Hoje desejo isso, aquilo e aquele.
Amanhã não mais.
Fecho a porta.
Olho no espelho
e enxergo apenas
o meu desejo.

quinta-feira, maio 25, 2006

Apenas duas pernas.

"Estou procurando, estou procurando. Estou tentando entender. Tentando dar a alguém o que vivi e não sei a quem, mas não quero ficar com o que vivi. Não sei o que fazer do que vivi, tenho medo dessa desorganização profunda. Não confio no que me aconteceu. Aconteceu-me alguma coisa que eu, pelo fato de não saber como viver, vivi uma outra? A isso quereria chamar desorganização, e teria a segurança de me aventurar, porque saberia depois para onde voltar: para a organização anterior. A isso prefiro chamar desorganização pois não quero me confirmar no que vivi - na confirmação de mim eu perderia o mundo como eu o tinha, e sei que não tenho capacidade para outro".

(Clarice Lispector. Paixão Segundo G.H)

terça-feira, maio 23, 2006

Proezas de Antônio Esaú

Existe um município
No Sertão paraibano
Que mina doido e poeta
Que nem peixe no oceano
É minha querida musa
Terra de Zé de Cazuza
Prata de grande arcano.

Quando lá fui um humano
Que da nascente é tirado
Deus espera c’um pincel
Pra deixar logo marcado
Entre mil, um escolhido
Pincelado e promovido
A ser um iluminado.

Por Deus ele é guiado
Sem muita preocupação
Passando fome ou fartura
Calçado ou de pés no chão
Vai sua vida levando
Bem contente e se engraçando
Com qualquer situação.

Germinou nesse sertão
Um caboclo pincelado
Baixinho e presepeiro
Briguento embriagado
Monta num jegue sem cela
Faz das ruas passarela
Tocando “pife” montado.

Atende quando é chamado
Por Antônio Esaú
Nos dias de feira livre
Visita logo a pitu
Que de ser sóbrio se safa
E quando sai da garrafa
Fica que nem urubu.

Procurando um cururu
Apodrecido no chão
Só que o seu cururu é
Uma doce confusão
E na hora que ele encontra
Dá um rasante se apronta
Pra pegá-la com a mão.

No meio da confusão
Pancadas descomunais
São lançadas por Antônio
Nas suas brigas banais
Que só vejo a terminar
Quando o povo vai chamar
Dois ou três policiais.

Um desses dias banais
Antônio foi algemado
E levado pra cadeia
Pra ficar tranqüilizado
Dormiu na delegacia
Com raiar de outro dia
Foi lhe soltar um soldado.

Viu na parede estampado
Um desenho anormal
De pessoas que retratam
Os policiais local
Que Antônio pintou sem tinta
E segurando na cinta
O guarda ver o mural.

Ao ver, com muita moral
Gritou ligeiro o soldado:
- Que diabo é isso, Antõe?
Antônio disse apressado:
- Antes que desapareça
O que só tem a cabeça
Repare que é o delegado.

Esse restante é soldado
Que o meu dedinho pinto
Depois diga ao delegado
Que assim sem corpo fico
E sem corpo vai ficá.
Nem termino de pintá
Porque merda acabô.

Do poeta Junior do Bode

(Cederei esse reles espaço para as poesias, os causos e as histórias desse jovem poeta, e de tantos outros, apaixonados pelo sertão paraibano)

segunda-feira, maio 22, 2006

nascemos e morremos nas palavras

"Eu escrevo sem esperança de que
o que eu escrevo altere qualquer coisa.
Não altera em nada...
Porque no fundo
a gente não está querendo
alterar as coisas.
A gente está querendo
desabrochar
de um modo ou de outro..."
Clarice Lispector.

...quando ele passa...

Toda mulher tem ou já teve um homem que a deixa com a boca seca e o corpo molhado. Aquele sujeito de encontros inusitados, que quando você menos espera...
Pronto, estão os dois, face a face. Pernas bambas, rosto corado e o coração acelerado deixa a fala tremula e os olhos com um certo brilho. Tudo de forma extremamente delicada e disfarçada, quando possível, por belos sorrisos e boas gargalhadas.
Mas, o fato é que só ela sabe o que ele causa ao seu corpo, o que ele deixa quando some na próxima esquina. Parece que o sangue passou por um aquecimento repentino. Dá até para escutar o borbulhar da fervura sanguínea. A carne fica em transe, como se os ossos se transformassem em galhos verdes, que balançam com qualquer vento fraco. O pensamento vai a procura de falas instigantes e cheiros reveladores.
Tudo parece se preparar para o desejado. Inconsciente, ou conscientemente, o corpo, a alma, ou qualquer outra coisa, parece se arrumar para outra morada. Uma morada de horas, dias ou meses, ninguém sabe ao certo. Mas o que é impossível negar, esconder ou até mesmo esquecer, é o que esse rapaz faz ao cruzar o olhar, que muitas por muitas vezes, tenta até desviar.

segunda-feira, maio 15, 2006

no canto da sala

Corpo seco e ressentido
Buscando respostas
Numa vida sem notas
Num caminhar desmedido

Atropelo de sentimentos
Da infância esquecida
Em copos de bebidas
E gestos impensados

Carência que aflora a alma
Já teve seus dias de glória
Abraço do homem amado
Colo do eterno namorado

Silêncio e retratos
Reforçam o cansaço
Das pernas doloridas
Seguindo a velha trilha

Íntimo impensado
Saindo em desatino
Olhando o pobre destino
Peito desnaturado

sexta-feira, maio 12, 2006

Se...pero...

Dos Margaritas
Herbert Vianna

Fazer um desenho nas costas da mão
Despir a consciência das dores morais
Jogar uma vaca do décimo andar
Viajar sobre a lua que varre os sertões
Uma ostra chilena, um beijo em Paris
Se cortasse o cabelo e mudasse o nariz
Se Vital escrevesse a constituição
Se eu nunca quisesse quem nunca me quis

Ser dois e ser dez e ainda ser um
Se a vingança apagasse a dor que eu senti
Seco, reto, isento, amoral
Se eu nunca lembrasse o estrago que eu fiz
Tudo isso me faria feliz
Absurdos me fariam feliz
Pero nada me hará tan feliz
Como dos margaritas

terça-feira, maio 09, 2006

seca

A porta da madrugada se fecha
Sem certezas, sem promessas
Ficam apenas os cheiros
E nos sonhos as descobertas

Com o sol mais um dia caminha
Sem o medo de outrora
Trazendo verdades por vezes esquecida
E vontades comumente disfarçadas

As flores ainda permanecem lá fora
Sem aromas
Mal ouvidas
Murchas
E despercebidas

Na espera da bela chuva
Que vem banhar sua cama
Para disseminar seu novo aroma
Dentro da velha casa

sexta-feira, maio 05, 2006

As crianças do século XXI

Bibia (2 anos e 9 meses): Tia, vai pegar a tartaruga.
Tia Beta (25 anos): ô minha linda, Titia não tem carro.
Bibia (2 anos e 9 meses): Tem “onbus”, tem?
Tia Beta (25 anos): Mainha, vem ver essa menina.

quinta-feira, maio 04, 2006

ao cair da tarde

Dentro de casa uma voz suave chora
Será meu pensamento saindo em desalento
Ou talvez o meu desejo esvaindo no esquecimento

o samba da noite...

Uma bela mulher ou vários homens.
Uma voz e violão ou uma mesa de samba.
Em todos os lugares visitados na noite de ontem
esse samba se fez presente.
Salve, o samba.
Salve, quem faz samba.
Salve, quem sente o samba.

A Flor E O Espinho
by Nelson Cavaquinho, Guilherme de Brito, Alcides Caminha

Tire o seu sorriso do caminho
Que eu quero passar com a minha dor
Hoje pra você eu sou espinho
Espinho não machuca a flor
Eu só errei quando juntei minh'alma a sua
O sol não pode viver perto da lua
Tire o seu sorriso do caminho
Que eu quero passar com a minha dor
Hoje pra você eu sou espinho
Espinho não machuca a flor
Eu só errei quando juntei minh'alma a sua
O sol não pode viver perto da lua
E no espelho que eu vejo a minha magoa
E minha dor e os meus olhos rasos d'agua
Eu na seua vida já fui uma flor
Hoje sou espinho em seu amor
Eu só errei quando juntei minh'alma a sua
O sol não pode viver perto da lua
Tire o seu sorriso do caminho
Que eu quero passar com a minha dor
Que eu quero passar com a minha dor

terça-feira, maio 02, 2006

Até parece o “Se vira nos trinta” do Faustão

Vende-se sapato social usado em ônibus sem vendedor.
O sapato encontrava-se perto da porta da saída do ônibus com um pedaço de papel escrito Vende-se. Fiquei imaginando de quem seria aquele velho sapato, mas de uma coisa eu tive certeza, o cara pelo menos é criativo e não fica “enchendo” o saco gritando com fortes agudos no ônibus. Olha o sapato social usado, quem vai quer?
...

Aluga-se cartão telefônico. Barraca no camelodromo.
O cara acompanha você até o orelhão, ver a quantidade de crédito no cartão e depois o quanto você gastou. Daí você paga por isso. Infelizmente não sei a cotação da unidade.
...

Época de tanajura, aquela formiga, deliciosa, que se come.
O homem briga com sapos e galinhas pelas tanajuras na beira da estrada. Um chuta o sapo daqui outro a galinha de lá, e a cadeia alimentar vira aos avessos. Mas em uma coisa os especialistas estavam certos, sempre sobrevive ou vence o mais forte. Resultado. Menino de barriga cheia e uma venda de formigas garantida.
(fato presenciado por Márcio Guerra, nas suas inúmeras viagens. Ele tem muita história para contar)

segunda-feira, abril 24, 2006

No dia em que eu queria ter mãos de fogo e peito de aço

Segunda vez que tenho o desprazer de sentir a cor de um “cano” ao meu lado. Naturalmente os olhos não encaram. Não lembro da pele, muito menos dos olhos. Quatro amigos no carro, vontade de eternizar um dia feliz com a noite instigada e continuar com nosso sentimento de “protegidos” na nossa cidade. No entanto, uma ponte “inacessível” nos desviou, levou nosso carro ao encontro do outro lado, da realidade, do que não queremos ver, sentir ou imaginar.
Entre carroças de lixo pessoas dançavam e bebiam seus desamparos e esquecimentos, e nós também queríamos apenas isso, esquecer nossas limitações e descrenças com uma “alienação musical”. Enfim, os caminhos se encontraram, mas éramos os “cocotas” dentro da cidade de deus. Antes havia um sentimento de revolta social, diante do forte cheiro de lixo, mas um leve pensamento de que mesmo assim, as pessoas estavam se divertindo. Esse sentimento durou pouco, muito pouco por sinal.
Uma arma apontada, nervosismo a flor da pele e o que nos pertencia foi levado por quatro mãos pedidas. Voltamos pela mesma rua que entramos, passamos pelas mesmas pessoas que, provavelmente, já previam o ocorrido. Algumas olhamos nossas caras angustiadas e desconcertadas, outras bailavam como se nada tive acontecido, ou apenas emitindo um recado corporal, “aqui é assim! E a vida segue”.
Fomos embora, sem nossa tranqüilidade, sem nossos sorrisos, sem nossa alegria, sem nossa esperança. Voltei para casa com um sentimento de impotência, de revolta, diante da privação da minha liberdade e da decadência social. Castraram meus ideais, minha fé nas transformações, blasfemei. Mas os carrascos não foram eles, não são eles. Eles refletem o que cada um de nós temos hoje, nada!
Ainda acredito, confesso, sem romantismo, sem fantasia, mas ainda acredito. A arte, a música, a literatura pode ser um caminho para enfrentarmos esse desamparo da sociedade. Pensemos! Ajamos! Cuidemos!

quarta-feira, abril 19, 2006

cinco dias...era preciso mais

Mais de 12 horas dentro de um ônibus, olhos curiosos e sentimento de descobertas. Foi assim que fui ao encontro da Bahia de todos os Santos.
Ao sair da rodoviária um breve passeio de carro para ficar com água na boca. Realmente, a orla deles é extremamente grande e bela.
Dicas de lugares para visitar num pedaço de papel e fui "desbravar" a cidade do Afro-sambas:
Itapuã, Acarajés (camarões enormes), Piatã, Lagoa do Abaeté, Pelourinho, bar raiz na cidade baixa (Elevador Lacerda) e na alta, Rio Vermelho, Boca do Rio, Jardim de Alah, Parque Costa Azul, Felícia (boteco quem tem a figura ilustre , seu “bodinho”, marido de Felícia, um véio safado danado que vive dando trabalho para a esposa e para as meninas do lugar), Escambo (o colorido faz parte das duas paredes. È arte por todos os lados).
Bem, confesso que não conheci quase nada na cidade de Salvador. No entanto, deu pra sentir um pouco das pessoas de lá. Quase dois dias dentro de uma casa possibilita essa descoberta.
Uma galera que fala dançando, com um jeito que é bom de ouvir. Dá até uma impressão que a música faz parte da essência de cada um deles O ileaê, saravá! Um povo sossegado, sem muita pressa, eles vão deixando que o rumo natural das coisas guie seus passos, com salvas exceções, é claro, de pessoas e situações. Acho que cansei o povo, com minha ânsia de fazer tudo e agitar as histórias. Sai de lá com a sensação que, às vezes, é preciso parar e sentir.

(obrigada a todos os Soteropolitanos)

Curiosidades:
Lasquine é o Lá-e-Lô no dominó
Um cara goiaba é um cara leso, que ri de tudo (Goiaba aqui é outra coisa)
“Saciseiro” é um cara sujeira, malandro (pode ser bom ou ruim, depende do contexto).
“Barril” é uma bronca pesada
“Vamos se bater” é vamos nos encontrar

terça-feira, abril 11, 2006

Salve, a solteirice!

Safena (Elisa Lucinda)

"Sabe o que é um coração
amar ao máximo de seu sangue?
Bater até o auge de seu baticum?
Não, você não sabe de jeito nenhum.
Agora chega.
Reforma no meu peito!
Pedreiros, pintores, raspadores de mágoas
aproximem-se!
Rolos, rolas, tinta, tijolo
comecem a obra!
Por favor, mestre de Horas
Tempo, meu fiel carpinteiro
comece você primeiro passando verniz nos móveis
e vamos tudo de novo do novo começo.

Iansã, Oxum, Afrodite, Vênus e Nossa Senhora
apertem os cintos
Adeus ao sinto muito do meu jeito
Pitos ventres pernas
aticem as velas
que lá vou de novo na solteirice
exposta ao mar da mulatice
à honra das novas uniões

Vassouras, rodos, águas, flanelas e cercas
Protejam as beiras
lustrem as superfícies
aspirem os tapetes
Vai começar o banquete
de amar de novo
Gatos, heróis, artistas, príncipes e foliões
Façam todos suas inscrições.
Sim. Vestirei vermelho carmim escarlate

O homem que hoje me amar
Encontrará outro lá dentro.
Pois que o mate. "

....

Vamos viver a solterice e sugar dela o que ela exige da gente.
Vamos nos aprofundar nesse momento e deixar que ele diga o seu verdadeiro tempo.
Vamos transformar o que nos deixa triste em arte, contos, poemas, músicas, farras...
Enfim, vamos deixar que o belo ultrapasse as barreias do concreto
E fazer da realidade um conto de fadas.

(Uma homenagem a batman, a eterna menina carmim)

segunda-feira, abril 10, 2006

Mãe, também sou mãe. E agora???

Por esses dias minha mãe me cobrou um filho.
- Mãe, no mínimo eu preciso de um pai para a criança. E dinheiro? Não estou conseguindo me sustentar direito, quem dirá um bebê.
- Mas, minha filha, você pensa em ter filhos?
- Claro que sim, mainha. Mas, não agora, por favor.
....
Dias depois realizo o desejo de mainha.
....
Pronto, agora também sou mãe.
É uma linda menininha, que adora frutas, verduras, legumes, carnes e peixes.
Adora um afago na cabecinha e água limpa para seu banho diário.
Disseram que é proibido esse tipo de “produção independente”, mas um presente da cegonha a gente não joga fora.
A pequenina passou duas noites tranqüilas. Comeu direitinho e por enquanto tá num bercinho improvisado. Acho que ela tá muito bem sozinha em casa. Não vejo a hora de chegar a noite para dá um monte de cheirinho na minha pirraia.

Lispector, mamãe chega já.

sexta-feira, abril 07, 2006

somos o que queremos sentir

"Ouse, ouse... ouse tudo!!
Não tenha necessidade de nada!
Não tente adequar sua vida a modelos,
nem queira você mesmo ser um modelo para ninguém.
Acredite: a vida lhe dará poucos presentes.
Se você quer uma vida, aprenda ... a roubá-la!
Ouse, ouse tudo! Seja na vida o que você é, aconteça o que acontecer.
Não defenda nenhum princípio, mas algo de bem mais maravilhoso:
algo que está em nós e que queima como o fogo da vida!!"

Lou-Salomé

quarta-feira, março 29, 2006

Serei assim.... Eu!

“Até cortar os defeitos pode ser perigoso - nunca se sabe qual o defeito que sustenta nosso edifício inteiro...há certos momentos em que o primeiro dever a realizar é em relação a si mesmo.... Do momento em que me resignei, perdi toda a vivacidade e todo interesse pelas coisas. ...Para me adaptar ao que era inadaptável, para vencer minhas repulsas e meus sonhos, tive que cortar meus grilhões - cortei em mim a forma que poderia fazer mal aos outros e a mim. E com isso cortei também a minha força. Ouça: respeite mesmo o que é ruim em você - respeite sobretudo o que imagina que é ruim em você - não copie uma pessoa ideal, copie você mesma - é esse seu único meio de viver...Pegue para você o que lhe pertence, e o que lhe pertence é tudo o que sua vida exige. Parece uma vida amoral. Mas o que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesma.”

Clarice Lispector

segunda-feira, março 27, 2006

o jardim

Pés descalços na própria intimidade.
Revelação das vontades,
Ora escondidas ora esquecidas.
Não mais!
O incerto e o gozo desmedido pela vida.
Verdades, mentiras.
Dança das saias remendadas por linhas imaginárias.
Fantasias embriagantes.
Vício que seca a boca e molha o corpo.
Inexplicável.
A busca do cheiro de jasmim,
Esperança de colher frutos
E de cultivar rosas e flores.

quinta-feira, março 23, 2006

22

Um belo dia...

Filha, esse aqui é seu irmão.
É?!
É.
Prazer, irmão.
Como é teu nome mesmo...?

segunda-feira, março 20, 2006

Realidade e Sonhos

Acorda menina!
Olha que dia colorido lá fora.
Posso não, querido.
Os meus sonhos me transportam para o meu verdadeiro eu.
Quero ficar onde mora meus desejos e minhas angústias.
Aqui posso fazer o que quiser.
Pelo menos por hoje, me deixa dormir!

segunda-feira, março 13, 2006

"Admito que Perdi"

Se você não suporta mais tanta realidade
Se tudo tanto faz, nada tem finalidade
Então pra quê viver comigo?
Eu não vou ficar pra ver nossa ponte incendiada
Nossa igreja destruída, nossa estrada rachada
Pela grande explosão que pode acontecer no nosso abrigo
Olhei pro amanhã e não gostei do que vi
Sonhos são como deuses
Quando não se acredita neles, deixam de existir
Lutei por sua alma, mas admito que perdi
E agora vou me perder nesse planeta conhecido
Intuir novos mistérios que ficaram escondidos
Naquelas palavras marcadas na sua carta de Adeus
Meu corpo vai sobreviver mesmo estando ferido
E até na hora de morrer eu não vou me dar por vencido
Porque sei que meus perdões vão estar bem ao lado dos teus
Olhei pro amanhã e não gostei do que vi Sonhos são como deuses
Quando não se acredita neles, deixam de existir
Lutei por sua alma, mas admito que perdi

Paulinho Moska

terça-feira, março 07, 2006

Afro-sambas

Tempo de Amor
(Baden Powell e Vinícius de Moraes)

Ah, bem melhor seria
Poder viver em paz
Sem ter que sofrer
Sem ter que chorar
Sem ter que querer
Sem ter que se dar

Mas tem que sofrer
Mas tem que chorar
Mas tem que querer
Pra poder amar

Ah, mundo enganador
Paz não quer mais dizer amor
Ah, não existe
Coisa mais triste que ter paz
E se arrepender
E se conformar
E se proteger
De um amor a mais

O tempo de amor
É tempo de dor
O tempo de paz
Não faz nem desfaz
Ah, que não seja meu
O mundo onde o amor morreu

sexta-feira, março 03, 2006

Aos meus amigos

Primeiramente quero agradecer a todos que se preocuparam com meus queridos e amados pés nesse carnaval. Em especial a Celo, que ficou de comprar umas meias de veinha para mim. A Felipe, meu cunhadinho do coração, que todo dia ficava de cara quando eu chegava em casa acabada e ia tomar banho para sair de novo. A Bruninho que cedeu sua casa de Olinda para eu ficar meia hora com os pés para cima. E é claro, ao meu anjinho da guarda.

Meus queridos e minhas queridas, todo cuidado valeu muito a pena, pois, meu carnaval foi inesquecível. E podem me chamar de louca, de juízo de bolinha de gude, mas quando eu entro numa farra, eu não quero sair mais não.

Sexta: Noite/Madruga - Rec Antigo e “Garrage”
Sábado: Manhã/Tarde - Olinda
Noite/Madruga - Minha maravilhosa sala.
Domingo: Manhã/Tarde – Olinda e Rec Antigo
Noite/Madruga – Alto Zé do Pinho e Rec Antigo
Segunda: Manhã/Tarde – Nazaré da Mata
Noite/Madruga – Várzea e Rec Antigo
Terça: Manhã/Tarde – Olinda
Noite/Madruga – Rec Antigo

Não tem coisa melhor do que ver o dia amanhecendo em pleno carnaval.
E meus pés....já estão com saudades da folia!!!!

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

A Força Que Nunca Seca

"Já se pode ver ao longe
A senhora com a lata na cabeça
Equilibrando a lata vesga
Mais do que o corpo dita
O que faz e equilíbrio cego
A lata não mostra
O corpo que entorta
Pra lata ficar reta
Pra cada braço uma força
De força não geme uma nota
A lata só cerca, não leva
A água na estrada morta
E a força nunca seca
Pra água que é tão pouca"

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

"Eu sou tua e tu és meu, e nós é um"

“Temos procurado nos salvar mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes. Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer sua contextura de ódio, de amor, de ciúme e de tantos outros contraditórios. Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar nossa vida possível. Muito de nós fazem arte por não saber como é a outra coisa. Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que nossa indiferença é angústia disfarçada. Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos no que realmente importa. Falar no que realmente importa é considerado uma gafe. Não temos adorado por termos a sensata mesquinhez e nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses. Não temos sido puros e ingênuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer “pelo menos não fui tolo” e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz. Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos. Temos chamado de fraqueza a nossa candura. Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo. E a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia...”

Trecho do livro Um Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres de Clarice Lispector
Fala de Ulisses para Lóri

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Tem mais samba...

Tem mais samba no encontro que na espera
Tem mais samba a maldade que a ferida
Tem mais samba no porto que na vela
Tem mais samba o perdão que a despedida
Tem mais samba nas mãos do que nos olhos
Tem mais samba no chão do que na lua
Tem mais samba no homem que trabalha
Tem mais samba no som que vem da rua
Tem mais samba no peito de quem chora
Tem mais samba no pranto de quem vê
Que o bom samba não tem lugar nem hora
O coração de fora
Samba sem querer

Vem que passa
Teu sofrer
Se todo mundo sambasse
Seria tão fácil viver

quarta-feira, janeiro 25, 2006

A poesia, a dançarina e o anjo.

Soneto de Martha (La flor ilimitada)
Vinicius de Moraes

"Teu rosto amada minha
É tão perfeito
Tem uma luz tão cálida e divina
Que é lindo vê-lo quando se ilumina
Como se um cílio ardesse no teu peito
É tão leve teu corpo de menina
Assim de amplos quadris e de busto estreito
Que dir-se-ia uma jovem dançarina
De pele branca e fina
De olhar direito
Deveria chamar-te claridade
Pelo modo espontâneo
Franco e aberto
Com que encheste de cor meu mundo escuro
E sem olhar, nem vida, nem idade.
Me deste em tempo certo
Os frutos verdes deste amor maduro. "

Presente de um anjo.
Obrigada, bonito.

terça-feira, janeiro 24, 2006

Sem Aviso

"Anda
tira essa dor do peito, anda
despe essa roupa preta e manda
seu corpo deslembrar

Canta
vira dor pelo avesso
Canta
larga essa vida assim as tontas
Deixa esse desenganar

Calma
Dê o tempo ao tempo, calma
alma
Põe cada coisa em seu lugar
E o dia virá, algum dia virá
Sem aviso

então... "

segunda-feira, janeiro 16, 2006

É tempo de:

Secar as lágrimas.
Deixar o suor cair.
Abrir os armários.
Fechar as caixas.
Reler os e-mails.
Encher o coração.
Esperança.
Alegria.
Arrumar a casa.
Juntar dinheiro.
Ler Clarice.
Escutar Tom.
Eternizar Chico
Respeitar Cartola.
Sentir.
Ouvir.
Cantar.
Abraçar crianças.
Beijar os velhinhos.
Cuidar das irmãs.
Ama a mãe.
Perdoar o pai.
Brincar com a sobrinha.
Ficar perto dos verdadeiros amigos.
Ir para a farra com quem é de farra.
Dançar com que é de dança.
Sambar com quem gosta de samba.
Ficar em casa.
Filmes e vinhos.
Computador, Jurandir,
Marcuse, Foucalt, Giddens
Mais vinho.
Madrugadas.
Olheiras.
Entrega.
Título.
Carnaval.
Apelo.
Amor.
Eterno.