quinta-feira, julho 27, 2006

Ver e Sentir

Imagem do fotógrafo Jan Saudek (The Lovers, 1987)

terça-feira, julho 25, 2006

pobre carnaval

Serpentinas cortadas por cinzas
Confetes jogados num canto
Fantasias em preto e branco

Roberta Valentim

quarta-feira, julho 19, 2006

O sal, O amor, A revelação.

"Lembrei-me de ti, quando beijara teu rosto de homem, devagar, devagar beijara, e quando chegara o momento de beijar teus olhos - lembrei-me de que então eu havia sentido o sal na minha boca, e que o sal de lágrimas nos teus olhos era o meu amor por ti. Mas, o que mais me havia ligado em susto de amor, fora, no fundo do fundo do sal, tua substância insossa e inocente e infantil: ao meu beijo tua vida mais profundamente insípida me era dada, e beijar teu rosto era insosso e ocupado trabalho paciente de amor, era mulher tecendo um homem, assim como me havias tecido, neutro artesanato de vida."

Clarice Lispector
A Paixão Segundo G.H.

...

Para mim A Paixão Segundo G.H. é a belaza e a inquietude profunda do desabrochar do ser.

Roberta Valentim

segunda-feira, julho 17, 2006

A voz que é do samba.

O bonde do Dom
(Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown, Marisa Monte)

Novo dia, sigo pensando em você
Fico tão leve que não levo padecer
Trabalho em samba e não posso reclamar
Vivo cantando só para te tocar
Todo dia, vivo pensando em casar
Juntar as rimas como um pobre popular
Subi na vida com você em meu altar
Sigo tocando só para te cantar
O Bonde do Dom que me leva
Os anjos que me carregam
Os automóveis que me cercam
Os santos que me projetam
Nas asas do bem desse mundo
Carrego um quintal lá no fundo
A água do mar me bebe
A sede de ti prossegue

Música do novo Álbum de Marisa Monte
Universo ao Meu redor.

...

deixando o samba falar ao pé do ouvido.

quinta-feira, julho 13, 2006

Desejo Humano

(Imagem do Filme Desejo Humano 1954 do diretor Fritz Lang)

O desejo que borbulha
Queimando os lençóis
Tem data e hora marcada
Pra nascer e morrer.
O problema é que ele,
Nasce,
Morre,
E não tem sepultamento.
Roberta Valentim

quarta-feira, julho 12, 2006

O outro, lado.



"Eu já havia experimentado na boca os olhos de um homem e, pelo sal na boca, soubera que ele chorava".

A Paixão Segundo G.H.

Clarice lispector

sexta-feira, julho 07, 2006

"A História de Lily Braun"


Como num romance
O homem dos meus sonhos
Me apareceu no dancing
Era mais um
Só que num relance
Os seus olhos me chuparam
Feito um zoom

Ele me comia
Com aqueles olhos
De comer fotografia
Eu disse cheese
E de close em close
Fui perdendo a pose
E até sorri, feliz

E voltou
Me ofereceu um drinque
Me chamou de anjo azul
Minha visão
Foi desde então ficando flou

Como no cinema
Me mandava às vezes
Uma rosa e um poema
Foco de luz
Eu, feito uma gema
Me desmilingüindo toda
Ao som do blues

Abusou do scotch
Disse que meu corpo
Era só dele aquela noite
Eu disse please
Xale no decote
Disparei com as faces
Rubras e febris

E voltou
No derradeiro show
Com dez poemas e um buquê
Eu disse adeus
Já vou com os meus
Numa turnê

Como amar esposa
Disse ele que agora
Só me amava como esposa
Não como star
Me amassou as rosas
Me queimou as fotos
Me beijou no altar

Nunca mais romance
Nunca mais cinema
Nunca mais drinque no dancing
Nunca mais cheese
Nunca uma espelunca
Uma rosa nunca
Nunca mais feliz

Edu Lobo - Chico Buarque/1982
Para o balé O grande circo místico

quinta-feira, julho 06, 2006

“Você não é mais a mesma”

“Você não é mais a mesma”. Dormi com essa frase na minha cabeça. Formada por poucas palavras, de significados fáceis, mas quando se juntam na frase, parecem se transformar num bicho de sete cabeças.

Então fiquei matutando o que mudou tanto em mim. A grande maioria das pessoas menciona essa frase para minha pessoa, quando não bebo o suficiente, quando não me empolgo o suficiente, quando recuso algo irrecusável ou algo totalmente recusável, que em outros tempos eu não recusaria. Quando não danço quando todos estão sentados ou quando todos estão dançando. Mas, preciso encerar essas descrições, pois do contrário, passarei o texto citando as diversas situações e não chegarei onde eu não sou.

De fato, assumo sem cerimônias ou tristeza, que não sou mais a mesma. Foram tantas coisas, tantas pessoas, tantos acontecimentos, tantos atropelos e atropelamentos, que não sou mais a mesma. Não sou mais tão doce, não sou mais tão ingênua, não sou mais tão insegura, que eu até achava belo a insegurança singela. O que era eu, agora parece não ser. Mas nós não somos sempre não sendo?

Não tenho mais medo da solidão, embora não a queira. Não tenho mais receio do futuro, embora tente encontrá-lo. E não tenho, e parece que essa eu pedir de vez, vergonha na cara. Posso até ficar com as faces rosadas, ai já é uma outra história, mas não deixo de fazer o que minha vida sinaliza para mim.

Em outros tempos, eu seria mais Ego, ou até o Superego, hoje eu sou muito mais Id. E olhe que isso não é bom não, muito mesmo para ser divulgado assim, mas já que estamos falando em não ter vergonha, assim seja. O que é engraço é que até isso parece se encaminhar para um período de reformulações. Não pelo fato de deixar de ser Id, mas por racionalizar essa energia. Acredito que o ser humano quando chega muito perto dele mesmo tem diversos sustos e eu tive o meu, e agora não há mais volta. Uma vez conhecido o outro lado, não tem como esquecê-lo e nem se deve, e nem quero.

A mudança original, umbilical, depois de muitos anos fora do útero, foi essa. Foi o encontro com o outro lado. Mesmo sendo um encontro acanhado, disfarçado, quase um feto, transformou e me tornou em “não mais a mesma”. Tudo isso também não deixa de ser o caminho natural do passar dos anos e da vivência. E não irá parar. Terão vários encontros amadurecidos com o outro lado, vários caminhar desmedidos, várias transformações reveladoras. O que não pode e não vai mudar é o acreditar. O acreditar em mim, no humano, na vida.

Enfim, não sou mais a mesma. Meu corpo mudou, meu cabelo mudou, minhas roupas mudaram, o meu rosto mudou. A armadura também muda. Essa carapaça que temos que carregar diariamente. Em algumas pessoas somente ela se modifica, mas ai já é resignação demais.

segunda-feira, julho 03, 2006

Saudade
















Se as lágrimas tivessem o dom de transformar saudade em flores.
Meus trilhos seriam cobertos por margaridas, jasmins, orquídeas, papoulas.
Seriam flores de todos os tipos e cores.